quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ninguém dirige aquele que Deus extravia


Ontem à noite revi o filme "Um copo de cólera" na TV Cultura e bebi novamente do primoroso texto deste que considero um dos maiores escritores de todos os tempos: Raduan Nassar.
"... e era extremamente bom ela se ocupando do meu corpo e me conduzindo enrolado lá pro quarto e me penteando diante do espelho e me passando um pito de cenho fingido e me fazendo pequenas recomendações e me fazendo vestir calça e camisa e me fazendo deitar as costas ali na cama, debruçando-se em seguida pra me fechar os botões, e me fazendo estender meus pesados sapatos no seu regaço pra que ela, dobrando-se cheia de aplicação, pudesse dar o laço, eu só sei que me entregava inteiramente em suas mãos pra que fosse completo o uso que ela fizesse do meu corpo."
Um Copo de Cólera - Raduan Nassar

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Pés descalços sem pele



Mulher Eu Sei



Chico César

Eu sei como pisar
No coração de uma mulher
Já fui mulher eu sei
Já fui mulher eu sei





Para pisar no coração de uma mulher
Basta calçar um coturno
Com os pés de anjo noturno



Para pisar no coração de uma mulher
Sapatilhas de arame
O balé belo infame



Eu sei como pisar
No coração de uma mulher
Já fui mulher eu sei
Já fui mulher eu sei

Para pisar no coração de uma mulher
Alpercatas de aço
O amoroso cangaço

Para pisar no coração de uma mulher

Pés descalços sem pele

Um passo que a revele

Já fui mulher eu sei...

Já fui mulher eu sei...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carta à Sarah Kane

" I dread the loss of her I've never touched
love keeps me a slave in a cage of tears
I gnaw my tongue with which to her I can never speak
I miss a woman who was never born
I kiss a woman across the years that say we shall never meet."
4.48 Psychosis - Sarah Kane


Querida Sarah,

Hoje faz 10 anos que você se foi.

Quando penso que você teria hoje minha idade me dá um nó na garganta. Estremeço em pensar quantas obras-primas mais você poderia ter escrito e se sua vida seria tão sem sentido quanto à de tanta gente da nossa idade.
Nunca ninguém saberá da sua real angústia.
Nunca...
Nunca...
Nunca...

Carinho e admiração.

Cecília Veby

***
Sarah Kane nasceu em Essex, Inglaterra, no dia 3 de Fevereiro de 1971. A depressão fez com que Sarah Kane, no dia 20 de fevereiro de 1999 se enforcasse no banheiro do London's King's College Hospital, aos 28 anos.
Hoje Sarah é considerada a maior dramaturga do final do século XX na Inglaterra e sua obra é encenada constantemente por toda a Europa e pelo mundo afora.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Bloco do Refogado do Sandi


Como bem definia nosso querido Erazê Martinho o Bloco do Refogado do Sandi é um BLONG, ou seja, um bloco não governamental, onde brincam foliões de todas as idades, fantasiados ou ainda vestidos de "escritório", não importa: o que vale é a alegria. Lá encontra-se ainda a verdadeira essência e a inocência dos antigos carnavais.

O Bloco do Refogado do Sandi sai na sexta-feira de Carnaval do Gabinete de Leitura Rui Barbosa às 16:00, percorre toda a Rua Barão de Jundiaí até a praça do Fórum e volta pela Rua do Rosário. São as 3 horas mais animadas do carnaval da cidade.

***
Ao Bloco do Refogado do Sandi
Cecília Veby

É só uma vez por ano
É só na sexta-feira
Um refogado de harmonia e brincadeira.

De dentro do silêncio dos livros e jornais
Surge a baiana, o anjo, o Zorro e lá vem mais
Um grupo de palhaços, pierrots e colombinas
E o pirata maquiando a bailarina.

Aqui somos iguais, nem reis e nem bufões
Branca de Neve já chegou com seus anões
O centro já espera por todo o burburinho
Que pena, é só por hoje, fica mais um bocadinho.

Crianças sem idade, somos beleza pura
Confetes, serpentinas, viva toda essa mistura
Vem que ainda dá tempo, estamos na Barão
Corre atrás do bloco, olha só que animação!

É só uma vez por ano
É apenas um dia
Um refogado de pura democracia.

Jundiaí, 19/02/2009.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Jusqu'ici tout va bien


La Haine, (1995) un film de Mathieu Kassovitz avec Vincent Cassel, Hubert Koundé, Saïd Taghmaoui

"Jusqu'ici tout va bien, jusqu'ici tout va bien... L'important ce n'est pas la chute, c'est l'atterrissage!"

"Até aqui está tudo bem, até aqui está tudo bem... O importante não é a queda e sim a aterrissagem."
Ontem assisti tardiamente este filme - "O Ódio" - de Mathieu Kassovitz (mais uma dica valiosíssima de Gabriel, o Cinéfilo) e só então compreendi o bordão "Até aqui está tudo bem" que é dito pelo meu grupo quando as coisas estão sob controle mas tendem a piorar muito.

Um dos personagens conta a "piada" do homem que se joga do 50º andar de um prédio e em cada andar que seu corpo em queda livre passa ele pensa: "Até aqui está tudo bem. Até aqui está tudo bem", mesmo sabendo que irá espatifar-se lá embaixo.


Humor negro? Não.
A realidade.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Cinderela Suely





Outro dia ouvi a perfeita definição de um amigo que se considera um "Peter Juan" - mistura de Peter Pan com Don Juan - e pensei que uma boa definição minha no atual momento seria a de "Cinderela Suely", mix de complexo de Cinderela com a personagem Neusa Suely de "Navalha na Carne".

A necessidade fremente de ser loucamente amada e diariamente desejada - tá, tá, já sei que é impossível - e a esperança incessante de um dia obter cuidados de outra pessoa luta com minha vontade de mudar de vida, ser completamente livre e independente de amores canalhas e "cafetões".
Entremeio momentos de ganas de perder o sapatinho propositadamente nas escadarias do baile para que um príncipe encantado sensível e intelectual o encontre e me resgate deste mundo cruel - Oh céus! Oh azar! - ou empunho corajosa a navalha contra Wado, o cafetão machão e canalha (a-do-ro a lábia dessas figuras) que já me chama de "galinha velha" por eu ter passado dos 30 e já não render muita coisa.

Mas hoje, queridíssimo Plínio, acordei bem Neusa, rímel nos joelhos, cansada pacas e com o mesmo questionamento da sua cria:
"- Será que somos gente?"

Foto: Peça "Navalha na Carne" , 1967 Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo Registro fotográfico Arquivo Sarah Feres. Em cena: Tônia Carrero (Neusa Suely)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Copos


Este fim de semana eu e uns amigos filosofávamos acerca de nossos copos, se eles costumam ser meio cheios ou meio vazios e cheguei à conclusão que meu copo está sempre um "cadinho" além de meio cheio, o que é um alívio em alguns momentos e um tormento quando não se há o que fazer, mesmo com todo o otimismo do Cosmos. Não chego a ser tão "pollyânica" feito o Fer - aquele do copo transbordante - nem meio vazio como o do Zé e nem trinco de tão ressequida feito o Gabi mas... ele contém um líquido que com certeza não é água e está sempre prestes à saciar a eterna sede.

E o seu copo, é meio cheio ou meio vazio?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Cotovelos de Borboleta




"Ser cobra machucava os cotovelos,
melhor ser borboleta."
Lygia Fagundes Telles

Inicio este blog com uma das frases do livro "Ciranda de Pedra" que estão grifadas na minha mente desde minha adolescência e que acabou tornando-se um pouco meu lema.

Sejam benvindos ao Sangria Atada!

beijos,
Cecília Veby